Rafah: ataque israelense mata 27 palestinos em centro de ajuda humanitária
Local é istrado pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), apoiada por Israel e EUA; ONU menciona 'crimes de guerra'
A distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza terminou novamente em tragédia. Pelo menos 27 palestinos foram mortos e cerca de 200 ficaram feridos nesta terça-feira (03/06) após as forças israelenses abrirem fogo contra uma multidão que aguardava alimentos nos arredores de um ponto de distribuição nas imediações da rotatória de Al-Alam, ao oeste de Rafah, no sul do território palestino.
O centro de distribuição de ajuda é istrado pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), apoiada por Israel e pelos Estados Unidos, de acordo com o Ministério da Saúde local.
Segundo a repórter Hind Khoudary, da emissora catari Al Jazeera, o caos tomou conta do local marcado pela ausência de qualquer sistema organizado de entrega de mantimentos. “Você precisa correr para conseguir comida. As Forças israelenses atiraram aleatoriamente com munição real e até usaram drones armados”, relatou, ao citar testemunhas no local. A quantidade de ajuda distribuída é extremamente limitada — consistindo apenas de farinha, óleo, lentilhas e alimentos enlatados.
O Alto Comissário das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou nesta terça-feira que os ataques de Israel contra civis na Faixa de Gaza violam o direito internacional e constituem crimes de guerra. Em comunicado lido pelo porta-voz Jeremy Laurence, a repórteres em Genebra, ele afirmou que “ataques mortais contra civis desesperados que tentam ar quantidades insignificantes de ajuda alimentar em Gaza são inaceitáveis”.
“Pelo terceiro dia consecutivo, pessoas foram mortas em torno de um local de distribuição de ajuda istrado pela ‘Fundação Humanitária de Gaza’. Esta manhã, recebemos informações de que dezenas de outras pessoas foram mortas e feridas“, complementou.
A organização Médicos Sem Fronteiras afirmou que a agressão destaca a brutalidade do novo sistema de distribuição, apoiado por Israel e pelos Estados Unidos, e reforçou os alertas sobre o risco à vida dos civis em busca de auxílio.

Jaber Jehad Badwan / Wikipedia Commons
‘Armadilha mortal’
O Comissário Geral da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, publicou uma mensagem nas redes sociais nesta segunda-feira (02/06), qualificando o novo mecanismo de ajuda de “armadilha mortal”.
Ele exigiu que Israel suspenda o bloqueio à Gaza, permitindo o o seguro e ir de agências humanitárias da ONU. E denunciou que o ponto de distribuição de ajuda humanitária foi instalado longe do sul da cidade de Rafah, obrigando milhares de pessoas desesperadas e famintas a caminhar dezenas de quilômetros em direção ao distrito reduzido a ruínas pelos bombardeios israelenses massivos.
“#Gaza: aid distribution has become a death trap.
Mass casualties including scores of injured and killed among starving civilians due to gunshots this morning. This is according to reports from international medics on the ground.
A distribution point by the Israeli- American… pic.twitter.com/vlUjY1T2lj
— UNRWA (@UNRWA) June 1, 2025
Lazzarini enfatizou que a ONU deve ter permissão para realizar operações de socorro para evitar a fome generalizada , especialmente entre um milhão de crianças em Gaza. Ele também pediu que a comunidade internacional pressione Israel para liberar a entrada de jornalistas estrangeiros na região, a fim de garantir transparência sobre o que chamou de “atrocidades em curso”.
Nesta segunda-feira (02/06), o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu uma investigação independente sobre os tiroteios em massa contra refugiados de Gaza, que têm sido relatados todos os dias desde 27 de maio, quando o GHF iniciou suas operações. “É inaceitável que palestinos arrisquem suas vidas por comida Peço uma investigação imediata e independente sobre esses eventos e que os perpetradores sejam responsabilizados”, afirmou.
Ataques
Este é o terceiro ataque semelhante em menos de uma semana. No último domingo (01/06), pelo menos outros 31 palestinos foram mortos e mais de 170 feridos em circunstâncias quase idênticas, também em Rafah. As vítimas estavam entre deslocados internos que buscavam ajuda em um dos poucos centros ainda ativos na região, sob o novo e perigoso regime de distribuição imposto por Israel.
A situação nos hospitais é alarmante. O hospital de campanha do Comitê Internacional da Cruz Vermelha em Rafah recebeu ao menos 184 feridos, dos quais 19 já chegaram sem vida e oito morreram pouco depois, segundo a agência Reuters. No Hospital Nasser, em Khan Younis, imagens mostram orações e lamentos de familiares durante os funerais das vítimas, um cenário que se repete com frequência crescente.
Desde o início da ofensiva israelense em outubro de 2023, mais de 54 mil palestinos já foram mortos, sendo a maioria mulheres e crianças, e cerca de 124 mil ficaram feridos, conforme dados atualizados. A UNRWA informa ainda que já perdeu 310 de seus funcionários durante a guerra.
Enquanto a população civil enfrenta a fome, o deslocamento forçado e o bombardeio contínuo, a ajuda humanitária chega a conta-gotas. A ONU alerta que a possibilidade de uma fome em massa é iminente, especialmente entre o mais de um milhão de crianças que vivem atualmente sob cerco em Gaza.
Com Al Jazeera, TeleSur e The Guardian
