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Terça-feira, 10 de junho de 2025
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Nas últimas 48 horas, vários organismos da Organização das Nações Unidas (ONU) voltaram a pedir a intervenção da comunidade internacional para obter um cessar-fogo na Faixa de Gaza.

A relatora especial da ONU sobre a situação dos Direitos Humanos nos Territórios Palestinos Ocupados, sca Albanese, esteve na França e denunciou a cumplicidade dos países ocidentais em relação a Israel em entrevista à RFI.

RFI: A posição da comunidade internacional hoje surpreende?

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sca Albanese: Sim, estou realmente chocada, e não apenas em relação à falta de ação para colocar um fim aos crimes de guerra e aos crimes contra a humanidade que estão sendo cometidos nos territórios palestinos ocupados.

O que me choca realmente é o apoio quase total e incondicional dado pelos Estados ocidentais a Israel, reconhecendo não só o seu direito de Israel de se proteger – que é, naturalmente, um direito que o país tem para com o seu território e os seus cidadãos. O que é chocante é esses Estados reconhecerem também que Israel tenha o direito de promover uma guerra muito violenta, contra pessoas que mantém sob sua ocupação. Isso é ilegal!  

Nas Nações Unidas, há pessoas que conheço e vivenciaram situações de conflito. Elas são unânimes: nunca viram nada assim. Todo mundo diz: “é o inferno na terra”. Este massacre de civis tem que acabar! Para nós que acompanhamos as questões entre Israel e Palestina há anos, está claro que o objetivo não é apenas eliminar o movimento político do Hamas. O objetivo é eliminar os palestinos da Faixa de Gaza e isso foi mencionado por políticos israelenses, antes mesmo de 7 de outubro.

Muitos representantes dos direitos humanos dizem hoje que os países ocidentais são cúmplices e se alinham totalmente com o que Israel e os Estados Unidos, que têm seus próprios objetivos, decidiram. Mas e os europeus? Porque é que os europeus têm que segui-los, mesmo que isso signifique distanciar-se do resto do mundo? Porque esse conflito não se limita a uma região. Este conflito opõe o Sul Global, que se identifica com a forma como os palestinos são tratados pelo Ocidente, ao Norte Global. Por que não escolher desempenhar um papel diferente?

sca Albanese denunciou situação dos Direitos Humanos nos territórios palestinos ocupados

Hatem Moussa/AP Photo

Mulheres palestinas am por edifícios destruídos por ataques aéreos israelenses no campo de Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza

O que os governos poderiam fazer para mudar a situação?

Em primeiro lugar, temos de insistir no cessar-fogo imediato e no respeito ao direito internacional. Mas o direito internacional não é respeitado, isso já era claro antes de 7 de outubro e está ainda mais claro agora. Quase 17 mil pessoas foram mortas, talvez até 20 mil, porque 3 mil pessoas estão desaparecidas. O que estamos esperando para tomar medidas sérias contra Israel? Medidas diplomáticas e econômicas? Foi o que fizemos com a Rússia assim que invadiu e iniciou uma guerra ilegal contra a Ucrânia.

Desde 1967, Israel gerencia um “empreendimento” que só pode ser definido como colonialista. Uma ocupação militar que serviu para estabelecer assentamentos, um após o outro. Existem agora 300 colônias, o que conduz ao despejo de palestinos das suas terras e à violência estrutural contra esse povo: detenções arbitrárias, deslocamentos forçados. São crimes. Crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Por que razão nunca se pensou em impor medidas diplomáticas ou em aplicar sanções econômicas, por exemplo? Isso nunca é cogitado quando se trata de Israel. A única forma de soberania na Palestina hoje é a impunidade.

Você foi para diferentes países antes de chegar à França, qual é sua percepção em relação a essa questão?

Há um grande fosso entre as pessoas, a sociedade civil e os governos. Na Austrália, na Nova Zelândia, por exemplo, eu não esperava que houvesse uma reação tão popular. Meu sentimento foi compartilhado pela população e não apenas por membros da sociedade civil ou ONGs. Todos esperam pelo fim da ocupação na Palestina ocupada e o fim da injustiça.

Há uma mobilização global, apesar das proibições em muitos países ocidentais, incluindo a França, o que é bastante chocante. Ainda assim, muita gente foi às ruas. É importante lembrar que este é um momento de solidariedade com o povo israelense que sofreu muito no dia 7 de outubro, mas sobretudo com o povo palestino que sofreu antes do 7 de outubro e hoje sofre mais do que nunca. Estou particularmente sensibilizada com as comunidades locais, políticos e prefeitos ses, que estão sendo solidários com esse movimento palestino e israelense. Ambos os povos são vítimas de um sistema anacrônico de colonialismo.