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Segunda-feira, 9 de junho de 2025
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Há mais de cinco anos o jornalista palestino Hazem Abdullah Nasseer Suleiman tem resistido às ameaças e ataques enquanto aponta ao mundo a brutalidade do genocídio israelense na Faixa de Gaza. Nascido em Khan Younis, território marcado pela fome, deslocamentos e violações de direitos humanos, o jovem de 27 anos contou a Opera Mundi que denunciar tais atrocidades é “como ser condenado à morte”.

Atualmente, Hazem mora em uma tenda improvisada para os refugiados em Rafah, onde vive desde que a sua terra natal foi transformada em um cemitério a céu aberto. Além de reportar o conflito, ele também faz parte do Gaza Sunbirds, uma equipe de paraciclismo do enclave. Ex-jogador de futebol, perdeu uma perna após ser alvejado por um tiro durante protestos de palestinos em Rafah.

Desde 7 de outubro, Hazem já presenciou o assassinato de mais de 214 profissionais por Israel. “Os jornalistas se tornaram um alvo importante para Israel porque somos os olhos do povo de Gaza, os olhos da verdade. O mundo vê o sofrimento desse povo, o sofrimento humanitário dessas pessoas, o deslocamento e a guerra que a ocupação israelense está travando contra nós através dos jornalistas. Por isso, nos consideram como parte da resistência”, explicou.

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Para ele, o mundo todo, de certa forma, é cúmplice de Israel e possui sangue das crianças palestinas nas mãos. “E a maior prova disso são os governos árabe e islâmico, onde a população não pressiona o Estado. Estão em silêncio recebendo [Donald] Trump, cujas mãos também estão com o nosso sangue”.

Leia a entrevista de Opera Mundi com o jornalista palestino Hazem Suleiman: 

Opera Mundi: quando você decidiu se tornar um jornalista? Teve tempo de estudar em uma universidade?

Hazem Suleiman: decidi trabalhar como jornalista no início de 2018. Não fui para a universidade. Não consegui estudar em uma instituição por conta da idade, pois eu era muito novo ainda. Comecei com paixão e amor a ser influenciado por um grande jornalista, Hassan Salih, nosso colega, nosso pai e nosso amor (Que Deus o tenha). Ele foi o meu mentor, o meu grande professor no jornalismo digital.

Então, comecei a trabalhar na área influenciado por tudo isso. ei a ler e fotografar, apesar da minha pouca idade, das poucas possibilidades e do fato de que eu não podia ser do campo do jornalismo e de tudo que envolve a profissão. Porém, os profissionais Hassan Salih, Hany Al-Shaer e também nosso colega Zaki Awadallah, todos os grandes colegas no campo da mídia e do jornalismo, foram um grande apoio para mim na profissão.

Como tem sido trabalhar nas condições atuais da Faixa de Gaza e quais foram as principais dificuldades durante o conflito?

Trabalhar como jornalista na Faixa de Gaza é como ser condenado à morte. Minha lesão foi devido à minha atuação nesse campo. A realidade é difícil, o jornalista é alvo a qualquer momento. Neste conflito, neste genocídio, marcado pelo deslocamento, fome, cerco, etc., somos mortos a sangue frio diante dos olhos de um mundo injusto e hipócrita. Infelizmente, trabalhar nessas circunstâncias é muito penoso. Vários profissionais foram martirizados em guerras anteriores na Faixa de Gaza, sendo alvos de ataques e perdendo membros.

hazem suleiman
Hazem Suleiman denuncia as atrocidades de Israel contra Gaza há cinco anos como jornalista
Arquivo pessoal

Quer dizer, sou um dos jornalistas que foi o alvo direto. Desempenhar essas tarefas num ambiente de guerra é muito difícil. Especialmente nesta, que foi e está sendo duríssima e absolutamente intensa para nós, superando as expectativas de que haveria uma guerra desta magnitude. Com o bombardeio, com o ritmo das evacuações, muitas coisas que enfrentamos não vêm sendo simples. Trabalhar à sombra da guerra e do conflito é difícil, especialmente em Gaza.

Mesmo tendo sido alvo de bombardeios do Exército israelense, por que decidiu continuar trabalhando?

Decidi continuar a trabalhar porque a ocupação, ao visar qualquer jornalista, seja ele morto, incapacitado ou impedido de praticar sua função e de transmitir a sua mensagem, é delirante, e eles pensam que podem parar os jornalistas. Pensam que teremos medo se formos alvos ou se algum colega for morto. Nesta guerra, cerca de 214 jornalistas foram assassinados. Os últimos foram Hassan Salih e Hassan Samour e Ahmed Al-Helou. Perdemos muitos parceiros, muitos. Eles estavam ao nosso lado e conosco em campo. A ocupação israelense pensa que ao me atacar, e ao atacar os meus colegas, os fotojornalistas em Gaza, isso fará com que nos pare, ou que iremos cessar a prática do jornalismo.

Mesmo sendo alvejado e perdendo a perna, após uma longa jornada de tratamento, optei por continuar o meu ofício porque acredito nesta causa. Não importa o que a ocupação israelense faça, continuaremos a transmitir a verdade conforme as imagens de Gaza.

Quantos colegas você perdeu desde 7 de outubro?

Até agora perdemos de 214 a 218 colegas jornalistas e isso, obviamente, teve um impacto. Dentre esses, há homens e mulheres, além de suas famílias e seus filhos. Ter como alvo jornalistas é um crime punível por lei, porque é contrário aos direitos desses profissionais, aos direitos humanos. Mas a ocupação israelense rapidamente acabou com todas as organizações, desrespeitando-as completamente.

E como você avalia a cobertura da imprensa internacional sobre a guerra em Gaza e por que os jornalistas se tornaram alvos de Israel?

Sinceramente, a dificuldade de conseguir internet e de recarregar os aparelhos, devido aos cortes de energia, são ações desafiadoras. Quer dizer, continuamos trabalhando em circunstâncias difíceis. Ter internet na Faixa de Gaza é algo grandioso. Poder carregar o telefone, a câmera e se movimentar já é uma grande conquista.

Os jornalistas se tornaram um alvo importante para Israel porque somos os olhos do povo de Gaza, os olhos da verdade. O mundo vê o sofrimento desse povo, o sofrimento humanitário dessas pessoas, o deslocamento e a guerra que a ocupação israelense está travando contra nós, através dos jornalistas. Por isso, nos consideram como parte da resistência. Acreditam que nós estamos afetando globalmente e internacionalmente enquanto expomos os crimes que estão cometendo contra nós, ou seja, crimes de guerra. É por isso que estamos sendo alvos, pois querem nos impedir de denunciá-los.

 

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Considera que existe uma falta de solidariedade internacional entre os seus colegas?

Honestamente, a solidariedade internacional, as posições e protestos, têm um impacto visível no meio do silêncio. Só que há muitas pessoas no mundo que ainda se calam sobre os crimes que a ocupação israelense comete nestas circunstâncias difíceis e atuais. Ninguém está se movendo, há falta de apoio em geral.

Nas manifestações, vimos as fotos de muitos jornalistas que foram mortos, e mesmo assim a grande imprensa não condena o assassinato e os ataques a estes profissionais. Há uma falta de solidariedade internacional entre jornalistas e muitos estão me seguindo nas redes sociais, seguindo os repórteres teres na Faixa de Gaza.

Como avalia a posição do Brasil e do presidente Lula em relação à guerra na Palestina? Considera que o governo brasileiro errou ao não tomar medidas mais duras contra Israel?

Não só o Brasil ou o governo brasileiro, mas o mundo inteiro está em silêncio. O mundo inteiro é cúmplice e participa do genocídio e da fome em Gaza. As mãos dos governantes e de muitas pessoas ao redor do planeta também estão manchadas com o sangue das nossas crianças, do nosso povo. Há quem seja capaz de pressionar as autoridades e os governos para acabar com este massacre, mas é insuficiente. E a maior prova disso são os governos árabe e islâmico, onde a população não pressiona o Estado. Estão em silêncio recebendo [Donald] Trump, cujas mãos também estão com o nosso sangue.

Os palestinos sempre foram alvos de Israel. Mas, desde outubro de 2023, essa ofensiva militar tem aumentado. O que você percebe sobre essa mudança? Israel agora tem maior apoio para realizar essas ações militares?

A guerra não começou hoje nem no dia 7 de Outubro. A ocupação tomou isso como desculpa, infelizmente. Israel comete crimes graves há muito tempo. Eles matam crianças, mulheres e idosos. Matam todos os dias a sangue frio o povo de Gaza e os palestinos na Cisjordânia. Esses são os principais motivos para que acontecesse o 7 de outubro. A ocupação israelense queimou uma criança em Jerusalém, matou os reféns palestinos e os deixou famintos. Eles cometeram grandes atrocidades ao longo dos 77 anos na Palestina. Defender a nossa terra não é crime, já que estamos ocupados.

Morando em Gaza, qual é a sua opinião sobre os planos e projetos relativos ao território palestino?

O objetivo deles, desde as guerras anteriores até a que vivenciamos agora, tem como alvo os projetos nacionais locais, a fim de acabar com a economia palestina, seja na Cisjordânia, seja em Gaza, pressionando cidadãos, famílias, comerciantes e especialistas a não investirem ou trabalharem na região, desistindo assim das terras palestinas em geral. É uma política da ocupação israelense para deslocar os palestinos daqui.

(*) Colaborou Dheylle Abou Shihab na tradução desta entrevista.