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Sábado, 14 de junho de 2025
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“A última vez que falei com o Thiago foi domingo (08/06) à tarde do Brasil, início da noite no Mediterrâneo”, contou Lara Souza, esposa do ativista Thiago Ávila, a Opera Mundi. “Ele estava se preparando para descansar. Naquele dia, drones e barcos israelenses já haviam se aproximado do barco deles.”.

Algumas horas depois, em um grupo de mensagens que reúne familiares dos 12 ativistas a bordo do Madleen – embarcação que transportava ajuda humanitária a Gaza – Lara recebeu um áudio de Yasemin Acar, cidadã alemã que também participava da missão. “Yasemin estava muito nervosa, dizendo que tinham sido interceptados pelos israelenses“, contou.

Na madrugada de domingo para segunda-feira (09/06), a navegação da Flotilha da Liberdade foi interrompida e o barco Madleen foi cercado por drones e barcos israelenses em águas internacionais. Após interceptarem as comunicações da tripulação e lançarem um líquido branco não identificado sobre a embarcação, forças israelenses invadiram o veleiro e detiveram os 12 ativistas a bordo, levando-os à força para Israel.

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“Depois da interceptação do barco, foram mais de 20 horas sem notícias do Thiago”, revelou Lara. A esposa do brasileiro afirmou que, em um primeiro momento, nem a repartição consular brasileira em Tel Aviv conseguiu saber de seu paradeiro, já que as autoridades israelenses se recusaram a ar informações.

Foi somente na noite de segunda-feira, após Thiago ser transferido de um porto militar israelense para o aeroporto de Tel Aviv, que o ativista finalmente teve o à assistência consular. Ainda assim, o pedido de Lara para falar com o marido por telefone – em uma chamada que seria mediada por representantes do consulado brasileiro – foi negado pelas autoridades de Israel.

De acordo com Lara, no aeroporto, Thiago só teve cerca de 10 minutos para ser orientado por sua advogada da Dala (organização de advogados palestinos que tem parceria com a Flotilha da Liberdade) antes de ser submetido ao interrogatório israelense. “Ele teve de escolher entre a presença da autoridade consular brasileira ou a advogada no interrogatório. Ele acabou optando pela advogada”, disse.

Deportação

Na ocasião, os ativistas foram interrogados separadamente. Cada um deles foi convidado a uma carta de deportação, na qual assumiriam ter entrado ilegalmente no território israelense. Thiago Ávila se recusou a o documento, assim como outros sete ativistas da Flotilha.

A esposa do ativista explicou à reportagem de Opera Mundi que alguns integrantes da missão – como a sueca Greta Thunberg e o jornalista da emissora catari Al Jazeera, Omar Faiad – am o termo de deportação em acordo com a estratégia da própria Flotilha. A ideia era garantir que essas figuras públicas pudessem relatar o que aconteceu durante e após a interceptação, contando de como foi a abordagem israelense, o trajeto do barco sob custódia, os interrogatórios e demais violações.

Thiago Ávila e família
Thiago Ávila e sua esposa Lara Souza
Reprodução / @thiagoavilabrasil

“Pessoas com maior visibilidade na mídia foram orientadas pela organização da Flotilha a aceitar a deportação”, explicou Lara. “Assim, conseguimos entender o que está acontecendo com os demais ativistas – como a privação de sono, de água e de comida – e denunciar as violações enquanto eles ainda estão sob custódia israelense”.

Além do convite à deportação, os ativistas receberam uma sanção de que estão proibidos de entrar em Israel por 100 anos. ‘’Na prática, isso significa que estão impedidos de entrar na Palestina, já que Israel comanda ilegalmente os territórios palestinos’’. ‘’O Thiago é um preso político, detido ilegalmente por Israel em águas internacionais. Ainda que tivessem ado o limite de águas internacionais, eles (os ativistas) estariam em águas palestinas. A prisão é ilegal de toda forma”, denunciou.

Greve de fome

Depois do interrogatório, um novo pedido de telefonema de Lara foi negado pelas autoridades israelenses. O ativista foi então transferido para a prisão de Givon em Israel. “Eu tinha a expectativa de que após ele ser itido na detenção, eu conseguiria finalmente fazer uma ligação para ele. Não foi o caso”, desabafou.

“O Thiago está fazendo greve de fome, mas a informação que tenho é que eles não receberam comida na prisão, somente água não potável. Alguns ativistas denunciaram para seus advogados que as celas estão infestadas de percevejos”, afirmou.

A companheira de Thiago relatou ainda que o Itamaraty sugere que o ativista assine a ordem de deportação, sob o argumento de que, após sua transferência para a prisão de Givon, o poder de negociação das autoridades brasileiras diante do governo israelense tende a diminuir. No entanto, o pedido formal da advogada do ativista às autoridades israelenses é outro: a liberação imediata de Thiago, e não sua deportação – uma vez que ele não entrou ilegalmente em território israelense, não violou nenhuma lei internacional e foi levado ao país contra a própria vontade.

O prazo para a resposta das autoridades israelenses sobre o destino de Thiago acaba na próxima quinta-feira (12/06).

Lara permanece esperançosa: “nunca tivemos tanta visibilidade. Mesmo que o barco não tenha conseguido chegar a Gaza, o bloqueio e a proibição imposta por Israel à ajuda humanitária foram escancarados para o mundo inteiro. Um dos nossos principais objetivos era justamente pressionar governos a aplicar sanções contra Israel e romper relações com o país, mobilizar pessoas em diversas partes do mundo – e conseguimos isso”.