Rússia propõe cessar-fogo de dois a três dias e troca de prisioneiros
Trégua temporária será em pontos críticos do front para conter crise sanitária na chamada 'zona cinzenta' entre posições
A segunda rodada de negociações entre a Rússia e Ucrânia foi concluída em Istambul nesta segunda-feira (02/06) com um conjunto de acordos iniciais que, embora não representem um cessar-fogo abrangente, abrem caminho para medidas de distensão em áreas específicas da frente de batalha.
O chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, anunciou que Moscou propôs a Kiev um cessar-fogo temporário de dois a três dias em pontos críticos da linha de contato, com o objetivo de permitir a coleta de corpos de combatentes mortos. A proposta, que será avaliada por especialistas militares de ambos os lados, responde, segundo o representante, a uma crise sanitária emergente na chamada “zona cinzenta” entre posições.
“A situação sanitária é perigosa. Faz calor e há risco de epidemias. Com esta medida, buscamos criar condições para que os corpos sejam recolhidos e enterrados de acordo com os ritos cristãos, até mesmo pelos nossos oponentes”, explicou Medinsky.
Por sua vez, o líder da delegação ucraniana, Rustem Umerov, confirmou que foi alcançado um acordo preliminar para a troca de 6 mil corpos de soldados mortos, um número sem precedentes desde o início do conflito.
Além disso, ambos os lados concordaram em prosseguir com uma troca massiva de prisioneiros, começando pelos gravemente doentes e feridos, sob uma fórmula “todos por todos”. O acordo também incluirá prisioneiros com menos de 25 anos e estabelece um limite total inicial de pelo menos mil pessoas.
Medinsky observou que ambos os lados trocaram memorandos sobre resolução de conflitos, marcando um o em direção à formalização de um processo de paz mais amplo. E, segundo Umerov, a equipe ucraniana tem uma semana para analisar o documento russo, que inclui propostas para um cessar-fogo abrangente por meio de um roteiro com etapas e caminhos concretos.

Cessar-fogo
Moscou apresentou duas opções para realizar o cessar-fogo, sendo um acordo global ou a retirada total das Forças Armadas da Ucrânia.
O acordo global proíbe a redistribuição das Forças Armadas da Ucrânia e de outras formações paramilitares, a não ser para ações destinadas a recuar das fronteiras da Federação Russa até uma distância a ser definida pelos países.
Acordado por ambas partes, a retirada completa solicita a saída das Forças Armadas e de outras formações paramilitares da Ucrânia dentro do território da Federação Russa, incluindo a República Popular de Donetsk, a República Popular de Lugansk e os oblastos de Zaporozhie e Kherson.
O site russo RT disponibilizou outros pontos presentes no acordo, como:
- Reconhecimento jurídico internacional da incorporação da Crimeia, da República Popular de Lugansk e da República Popular de Donetsk, além das províncias de Zaporozhie e Kherson, à Federação da Rússia.
- Retirada total das unidades do Exército ucraniano e de outras formações militares ucranianas desses territórios, que foram incorporados à Rússia após consultas populares em 2022.
- Rescisão da Ucrânia de todos os acordos internacionais que sejam incompatíveis com o status de neutralidade e se recusar a firmar acordos semelhantes.
Sequestro de crianças
Moscou reiterou a negativa de supostos sequestros de crianças durante a guerra e que todos os menores localizados foram devolvidos aos seus responsáveis legais. O representante russo Medinsky acusou Kiev de transformar essa questão em um “espetáculo para os europeus de coração”.
“Na realidade, são dezenas de crianças, são crianças que não foram sequestradas por ninguém. Não há uma única criança sequestrada. São crianças salvas por nossos soldados à custa de suas próprias vidas, retiradas de zonas de combate em risco, evacuadas, e estamos procurando por seus pais”, disse Medinsky. “Se os pais aparecerem, nós os devolveremos”.
Segundo ele, a Ucrânia devolveu 22 crianças russas que foram sequestradas. Medinsky também apontou as nuances dos números apresentados por Kiev, em relação os menores capturados. Pela primeira vez, a delegação russa recebeu uma lista com 399 nomes de crianças ucranianas, mas o governo já apresentou antes uma redução do número de 1,5 milhão para 200 mil e, agora para 20 mil. O chefe da delegação também relembrou que recentemente 150 nomes de uma lista estavam na Alemanha.
(*) Com Telesur.
