window.advanced_ads_ready=function(e,a){a=a||"complete";var d=function(e){return"interactive"===a?"loading"!==e:"complete"===e};d(document.readyState)?e():document.addEventListener("readystatechange",(function(a){d(a.target.readyState)&&e()}),{once:"interactive"===a})},window.advanced_ads_ready_queue=window.advanced_ads_ready_queue||[];
Terça-feira, 10 de junho de 2025
APOIE
Menu

O primeiro turno das eleições municipais, neste domingo (06/10), marcará o início de um processo que deverá impor ao Brasil uma nova configuração política, que será crucial para determinar os rumos do país até as presidências de 2026. E segundo a analista política Julia Almeida, professora da Universidade Anhembi Morumbi, a extrema direita tende a conquistar algumas vitórias neste mês de outubro.

Mestre em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutoranda pela Universidade de São Paulo (USP), Julia tem estudado os movimentos desse setor desde o governo de Jair Bolsonaro.

Em entrevista exclusiva a Opera Mundi, ela destaca o trabalho direcionado feito por grupos desse setor para reverter os pontos que foram decisivos na derrota do ex-presidente contra Luiz Inácio Lula da Silva, há dois anos. Um deles seria a força que o lulismo e o PT mostraram naquele pleito.

Receba em primeira mão as notícias e análises de Opera Mundi no seu WhatsApp!
Inscreva-se

“O Nordeste funcionou como cordão sanitário em 2022, barrando o bolsonarismo, mas vem experimentando um crescimento da extrema direita, com novas estratégias de identidade popular e formas de solidariedade, sobretudo a partir das igrejas, para alcançar resultados nas principais capitais, como Salvador, e no montante geral de municípios”, avalia.

Ainda assim, a analista política destaca a disputa em São Paulo como crucial para definir os novos rumos da política no Brasil, mas adverte que, mesmo nesse cenário, a extrema direita joga com a vantagem de ter dois candidatos (Ricardo Nunes e Pablo Marçal), contra um do campo progressista (Guilherme Boulos).

“A retomada da capital pela extrema direita, num cenário tão polarizado, seria um sinal inequívoco de alerta para o governo, e também um sinal da necessidade de novas estratégias por parte da esquerda e do campo progressista, para as disputas contra esse setor. Por outro lado, a vitória de Boulos representaria um alívio para as disputas gerais no próximo período, freando a hegemonia da direita e extrema direita em São Paulo”, comenta Julia.

Leia a entrevista na íntegra:

Opera Mundi: O que esperar desse pleito municipal? Cidades e municípios brasileiros vão embarcar para a esquerda ou para a direita, na sua avaliação?

Julia Almeida: Essas eleições serão decisivas para a compreensão da organicidade do movimento de extrema direita no Brasil. O engajamento nas eleições e as pesquisas apontam um crescimento deste setor, com renovação de lideranças e construção de novos públicos radicais. É o caso de Pablo Marçal, que está avançando no setor do marketing digital, ligado à ideologia da prosperidade e ao empreendedorismo.

Também será um importante termômetro para compreendermos como o debate de frente ampla se organiza fora das eleições presidenciais. Ou seja, perceber como se comporta o voto antifascista na disputa municipal, onde há interesses mais locais e relações de organicidade menos politizadas e polarizadas do que nas eleições presidenciais.

Ademais, o apelo desta unidade tem realizado um rebaixando dos programas de esquerda, o que aumenta a dificuldade para uma disputa de hegemonia na sociedade com os valores da extrema direita. Poucas foram as candidaturas da esquerda radical nas principais cidades do país que não abriram mão de suas bandeiras e de alianças programáticas. Esse processo tem um custo político de médio e longo prazo para as esquerdas, reduzindo cada vez mais seu espaço na sociedade.

Por esses fatores, acredito que a extrema direita (fisiológica ou ideológica) é quem tende a ganhar mais espaço eleitoral, ressalto que mesmo num eventual processo de fortalecimento do centrão, esse se dará sob as bases e alianças da extrema direita em sua grande maioria, inclusive podendo reduzir, em capitais importantes, o significado da vitória da chapa de Lula em 2022. O peso das emendas parlamentares nas eleições municipais tende a ser maior, e por isso a vitória pode aparecer com a cara do centrão, mas as bandeiras serão principalmente as da extrema direita.

Leia também

Simone Tebet: Brasil vai ‘do sonho para a realidade’ com Rotas de Integração

Catástrofe Ancestral: Elizabeth Povinelli analisa ecos do colonialismo e liberalismo tardio

Quais são as disputas mais interessantes, tendo em vista o tabuleiro político nacional? Que capitais e cidades importantes mostram os cenários mais decisivos para o reequilíbrio das forças políticas no país?

Vários fatores podem ser considerados para definição de algumas disputas como mais significativas ou interessantes nas eleições de 2024.

Porto Alegre, como a capital que sofreu nesse ano com um dos maiores desastres ambientais da história do Brasil, certamente é uma delas. Chama atenção que, na capital gaúcha, o prefeito Sebastião Melo (MDB) lidera as pesquisas, seguido de Maria do Rosário (PT). Esse cenário indica que o prefeito conseguiu se blindar de parcela importante das responsabilidades que envolveram as atribuições de sua prefeitura na prevenção de enchentes (destinação orçamentárias, obras etc).

A disputa de narrativas sobre as responsabilidades nas enchentes do Rio Grande do Sul foram intensas e se utilizou todas as táticas da extrema direita. Não foi pequena a mobilização de figuras da extrema direita na tragédia, na captação da lógica da solidariedade pela extrema direita. A esquerda teve ações muito importantes também, mas quem mais conseguiu disputar essa visibilidade foi a extrema direita.

Vale lembrar que Lula perdeu no Rio Grande do Sul em 2022, a nível estadual, mas ganhou na capital. Portanto, uma derrota agora em Porto Alegre teria um simbolismo importante nas disputas que virão.

Destacaria também a disputa no Nordeste como um todo, onde há um importante crescimento da extrema direita. O Nordeste funcionou como cordão sanitário em 2022, barrando o bolsonarismo, mas vem experimentando um crescimento da extrema direita, com novas estratégias de identidade popular e formas de solidariedade, sobretudo a partir das igrejas, para alcançar resultados nas principais capitais, como Salvador, e no montante geral de municípios. Em Recife temos uma exceção, com a projeção de vitória no primeiro turno do João Campos. É cedo para afirmar, mas ele pode se tornar uma liderança nacional mais relevante no próximo período. Aqui não há novidades em relação ao peso da extrema direita, mas sim a diversificação de lideranças do campo progressista.

Por último, esse ano certamente a principal disputa é na cidade de São Paulo. Duas candidaturas de extrema direita estão entre as três primeiras colocadas na cidade. A de Ricardo Nunes e de Pablo Marçal. O candidato progressista Guilherme Boulos (PSOL) mantém resiliência de votos e apoio de diversos partidos do campo. No entanto, o crescimento metódico de Marçal ameaça Nunes, o candidato oficial do bolsonarismo e do fisiologismo, mas ao mesmo tempo também coloca em risco a alternativa de mudança de Boulos.

Nesta última semana, Boulos vem demonstrando crescimento e assumindo a primeira posição na maioria das pesquisas, embora ainda na margem de erro e em empate triplo, ou seja, ele ainda pode não chegar no segundo turno, ainda que esse seja um cenário pouco provável, mas não é impossível estatisticamente.

Se avaliarmos a tendência das últimas pesquisas e o último debate na Globo, a principal probabilidade é de um segundo turno entre Boulos e Marçal. Se isso acontecer, a princípio Marçal perderia para Boulos com uma margem de cerca de 10%. No entanto, Marçal ainda não testou o efeito do tempo de televisão, que pode alterar esse jogo, assim como a forma como a extrema direita vai realizar esse apoio. Bolsonaro fez sinalizações dúbias, mas deve contribuir para a vitória de Marçal, assim como o governador Tarcísio.

Essa eleição é a mais importante do país, pois é onde há maior polarização com a extrema direita, incluindo a extrema direita mais orgânica e fascista (Marçal). Ela também deixa evidente como a extrema direita vem, em especial desde a inelegibilidade de Bolsonaro, travado uma batalha interna relevante entre suas lideranças. Marçal, vencendo, se tornará uma das maiores liderança da extrema direita no país, e isso tem o potencial de contribuir ainda mais para as tensões internas desse setor.

Por fim, a cidade de São Paulo foi importante para barrar Bolsonaro em 2022. A retomada da capital pela extrema direita, num cenário tão polarizado, seria um sinal inequívoco de alerta para o governo, e também um sinal da necessidade de novas estratégias por parte da esquerda e do campo progressista, para as disputas contra esse setor.

Por outro lado, a vitória de Boulos representaria um alívio para as disputas gerais no próximo período, freando a hegemonia da direita e extrema direita em São Paulo.

Por que, mesmo com a economia indo bem sob governo Lula, o PT ou os candidatos apoiados pelo governo não aparecem como favoritos em nenhuma capital nestas eleições?

Temos João Campos (PSB) e Eduardo Paes (PSD) podendo vencer em primeiro turno, e ambos são apoiados por Lula. No segundo turno é possível ainda muitas vitórias. Porém, ainda serão inferiores ao que se esperava, e acredito que isso se deve a duas questões.

A primeira conjuntural e tática, foi a pouca participação de Lula até aqui nos palanques eleitorais. Diferentemente de Bolsonaro, que tem rodado o país, Lula atuou pouco pessoalmente nas eleições, e isso tem impacto, porque a sua figura tem muito mais peso do que o próprio PT e demais setores do campo progressista.

Em segundo lugar, e o que considero o aspecto mais importante, são as condições sociais da disputa com a extrema direita. Embora haja melhoria na vida das pessoas, a tendência geral de precarização do trabalho e da vida continuam, e o mito neoliberal do o à riqueza através das dinâmicas propostas pela extrema direita (empreendedorismo, desregulamentação do trabalho, etc) vem se consolidando entre os valores sociais.

Houve um recrudescimento de valores conservadores na sociedade brasileira que a esquerda disputa cada vez menos. Se esses valores não foram disputados, o tempo dará espaço, cada vez mais, aos setores de extrema direita, que vem mobilizando essa insatisfação, mesmo que para ações que, na realidade, vão piorar a vida das pessoas.

Além, é claro de um conjunto de elementos mais gerais: o ascenso da extrema direita, o antipetismo, o enfraquecimento da direita “mais tradicional” (em particular o PSDB), são elementos que mesmo com a vitória de Lula seguem bastante relevantes na correlação de forças políticas no Brasil hoje.

Juliana Mastrascusa
Segundo Julia Almeida, eleição em São Paulo será crucial tanto para o campo progressista quanto para a extrema direita

Caso o PT e o campo progressista tenham um resultado negativo nestas eleições, isso pode gerar problemas de governabilidade para o presidente Lula?

Certamente que sim. É bastante relevante para o governo ter prefeitos que não sejam hostis ao Governo Federal, não apenas nas capitais, mas em todas as cidades do Brasil. Seja para execução de políticas públicas alinhadas com o Planalto, seja para uma certa agitação política favorável. Programas importantes do Governo Lula tem aplicabilidade que depende de governos municipais. O Bolsa Família talvez seja o exemplo mais relevante, mas não só ele. Além disso, existe a questão da influência para a composição do Congresso em 2024 e da base de apoio à reeleição de Lula, por isso o fortalecimento do campo progressista seria muito relevante para o processo geral de disputa.

A cobertura das campanhas sempre enfatiza as disputas pelas prefeituras, mas também haverá eleições para vereadores. Qual é a sua perspectiva para essas disputas legislativas regionais? A esquerda aprendeu as lições do ado e poderá conseguir resultados melhores que em outros anos?

Acredito que a vereança é onde mais se manifesta o poder fisiológico e a reprodução dessa direita e da extrema direita. O fundão eleitoral permite candidaturas de esquerda competitivas, sobretudo em cidades com candidaturas à prefeitura relevantes da esquerda. Mas o cenário para as eleições legislativas é de ainda mais força dos setores mais alinhados à extrema direita e à direita fisiológica.

Estas foram eleições marcadas por casos de violência política, o que fez com que o TSE criasse um observatório permanente de combate a tais agressões. O que pode explicar esse aumento e a forma como a política está sendo feita ultimamente?

Esse aumento da violência política certamente está associado a extrema direita que utiliza a violência, tanto física quanto verbal, como ferramenta política. O neofascismo como movimento de massas, propõe a perspectiva de construção do inimigo a ser destruído, aniquilado. Ademais, a linguagem digital, fundamental para a organização desse setor, favorece a radicalização do discurso violento. Bolsonaro e Marçal sã duas figuras que incitam o ódio em várias de suas falas, inclusive pela intolerância. Veja, não é que todos os episódios sejam praticados pela extrema direita. Contudo, acredito que na contemporaneidade foi a extrema direita que usa a violência política como ferramenta de disputa social. Esse é uma carcterística que está presente em todo movimento de extrema direita mundial.

Vale lembrar inclusive que embora o fenômeno tenha particularidades conjunturais, a violência política é algo frequente na história brasileira. Assassinatos de lideranças, agressões físicas e verbais foram registradas inúmeras vezes nas disputas políticas no Brasil. Isso se conecta com características autoritárias que a elite brasileira e seus representantes sempre carregaram.

A candidatura de Pablo Marçal parece ter causado um racha na extrema direita, entre um grupo ainda fiel a Jair Bolsonaro e outro que ou a ver no coach uma nova liderança para o setor. Você concorda com essa avaliação? Isso pode causar que tipo de cenário neste domingo?

Sim, a relação do Marçal com o bolsonarismo talvez seja o fato mais relevante das eleições municipais de 2024. Foi a primeira vez que uma liderança da extrema direita de tamanho relevante entrou em processo de disputa pública com a linha política adotada pelo ex-capitão. Não foi, por assim dizer, uma disputa direta, mas uma insubordinação. Marçal sai candidato sem o apoio de Bolsonaro e faz a base social do ex-presidente pressioná-lo pelo seu apoio. Entre idas e vindas, o apoio formal não veio, mas um grupo majoritário dos bolsonaristas paulistanos ou a defender voto no coach. As pesquisas indicam que entre os eleitores de Bolsonaro, Marçal tem mais votos que Nunes. Nas manifestações do 7 de setembro, entre a base mais orgânica do bolsonarismo, esse número chega a cerca de 70%.

Essas eleições também são importantes para demonstrar o peso ou não do apoio do próprio Bolsonaro. Se por um lado é cedo para afirmar que trata-se de uma disputa mais geral pela liderança da extrema direita, por outro é inegável que este é um episódio relevante para quem quer entender os rumos da extrema direita no país.

A ausência do X (antigo Twitter) neste último mês de campanha pode fazer uma diferença significativa no resultado das eleições, tendo em vista que a plataforma foi muito importante para a campanha da extrema direita nos pleitos mais recentes realizados no país?

Certamente, há um impacto no bloqueio da rede social, contudo não podemos subestimar a capacidade adaptativa que a extrema direita tem nas redes. Um exemplo disso é o próprio bloqueio da conta do Marçal no Instagram que não o impediu de criar uma conta nova. Em pouco tempo, essa outra conta tinha mais de um milhão de seguidores e, mais que isso, não mudou o fato de que é nas redes sociais o seu principal campo de batalha.

O manejo e domínio das redes socias pela extrema direita e os resultados até aqui empreendidos levam a crer que o X não terá uma relevância significativa para os rumos eleitorais da extrema direita.