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Quinta-feira, 12 de junho de 2025
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Sem que Donald Trump tivesse previsto no momento em que iniciou sua “maravilhosa” guerra tarifária, estão em ação dois fatores poderosos que transformaram o Brasil no país receptor de benefícios inesperados: o primeiro é o súbito aumento da procura de produtos agrícolas que os Estados Unidos deixarão de poder vender à China; e o segundo é que os investidores reduzirão o seu interesse na produção norte-americana de soja e outros produtos para a China. Além desses, há também os investidores que poderão reduzir o seu interesse na produção norte-americana de soja e outros produtos.

Mas há algo mais que é de suma importância para a economia brasileira: o primeiro fator, somado ao enfraquecimento do dólar, torna-se um balão de oxigênio para a política monetária do país e, entre outras coisas, poderá ter melhores condições de conter surtos inflacionários. Assim, pode-se dizer que a mesa está posta para o Brasil.

Em um cenário geral em que a América do Sul está mais bem posicionada face à guerra comercial entre os EUA e a China, o Brasil tornar-se o principal fornecedor de soja, cereais, carne de vaca e pasta de papel ao país asiático, deixando Washington. Os EUA não só deixarão de exportar enormes quantidades de produtos agrícolas para Pequim, como terão de procurar outros mercados de dimensões semelhantes àquele que estão a perder. Uma tarefa muito difícil.

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Alguns números

Entre 2013 e 2023, o comércio entre a América do Sul e os EUA cresceu 25%, enquanto entre a região latina e a China cresceu 45%. Nesse contexto, o Brasil forneceu 25% da soja, carne e grãos importados por Pequim, enquanto Washington respondeu por apenas 13,5%.

Quanto à quota dos EUA nas importações de alimentos da China, registou uma das maiores quedas em 2023, de 20,7% (2016) para 13,5% (2023), enquanto do Brasil cresceu de 17,2% para 25,2% no mesmo período.

Em 2023, 28% do total das exportações brasileiras destinaram-se à China, embora 75,6% destas fossem matérias-primas. Os principais produtos são a soja (33,4%), o petróleo (21,2%) e o ferro (21,1%). Apesar do seu carácter primário de exportação, isto é suficiente para explicar 41,4% do excedente comercial internacional do Brasil.

De acordo com dados divulgados publicamente, em 2024, o Brasil era o maior produtor e exportador de soja do mundo. 70% da soja comprada pela China é brasileira, 24% dos EUA e 4% da Argentina. Além disso, as compras de carne de bovino, pasta de papel, cereais, celulose e açúcar estão a aumentar exponencialmente.

No primeiro trimestre de 2025, as exportações de carne de bovino para a China aumentaram mais de 30% em comparação com o primeiro trimestre de 2024, enquanto as importações chinesas de aves de granja do Brasil aumentaram 19% em termos anuais em março. O oposto seria verdadeiro para as exportações dos EUA. Em janeiro deste ano, as exportações agrícolas para a China diminuíram 54% em relação ao mesmo mês de 2024. Esta situação tem repercussões negativas para a atividade agrícola dos EUA, tendo em conta que a China compra 90% das suas exportações de sorgo e quase 50% das suas exportações de soja.

donald trump
Trump impôs tarifas para diversos países, sendo a China uma das mais atingidas
White House / Daniel Torok

Quando, em seu primeiro governo, Trump declarou uma guerra comercial com a China, seus impactos já se faziam sentir no Brasil, que começou a perceber o aumento da demanda por seus produtos agrícolas, que substituiriam os dos Estados Unidos. Neste período, 2017-2021, iniciou-se uma tendência que registou a diferença crescente dos volumes exportados dos EUA e do Brasil para a China.

O Brasil é hoje o principal fornecedor de alimentos agrícolas para a China, com perspectivas de aumentar ainda mais a diferença de fornecedores em relação aos EUA.

Conclusão

Embora o recente boom das exportações brasileiras possa ser atribuído ao impacto da guerra tarifária entre a China e os EUA, o crescimento sustentado das exportações brasileiras para a China é o resultado de uma relação bilateral de longa data e mutuamente benéfica que remonta ao início do século 20. O crescimento sustentado das exportações brasileiras para a China é o resultado de uma relação bilateral de longa data e mutuamente benéfica que remonta ao final do século ado e se reflete em quase 40 acordos de vários tipos, incluindo acordos bilaterais de comércio e investimento.

O ano de 2010 é o ano de maior crescimento das exportações brasileiras para a China. Entre essa data e 2024, as exportações brasileiras de soja para a China cresceram mais de 280%, enquanto as exportações dos EUA se mantiveram praticamente estáveis.

Não será de estranhar que, muito em breve, a União Europeia seja um dos destinos de exportação dos produtos agrícolas brasileiros, pois está a revelar-se uma opção fiável aos olhos dos maiores mercados mundiais consumidores de alimentos.

Também não é de surpreender que outros países latino-americanos possam, se a guerra tarifária continuar, tirar partido do cenário comercial resultante de uma desordem tarifária global.