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Sexta-feira, 13 de junho de 2025
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Jantares românticos à luz de velas, flores, chocolates, presentes, cartões e juras de amor. É chegado mais um 12 de junho — o Dia dos Namorados.

Setores do comércio e do serviço aguardam a data com tanto entusiasmo quanto os apaixonados, ainda que por motivos distintos. Bares e restaurantes esperam um aumento de 20% no faturamento. E para os floristas, essa é a segunda melhor data do ano. Só vendem menos no Dia das Mães.

No resto do planeta, entretanto, a vida segue normalmente. O Brasil é o único país do mundo que celebra o Dia dos Namorados em 12 de junho. E a origem disso está em uma campanha publicitária criada por João Agripino Doria — o pai do ex-governador João Doria.

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O Dia de São Valentim

Na maioria dos países, o Dia dos Namorados é celebrado em 14 de fevereiro, designado Dia de São Valentim.

Conforme a hagiografia, São Valentim foi um sacerdote cristão que viveu no Império Romano durante o século III. À época, o cristianismo ainda era uma religião proscrita e seus devotos estavam sujeitos a punições severas.

A expansão do cristianismo era apenas uma das muitas preocupações que afligiam o imperador Cláudio II, alcunhado “o Gótico”. O reinado de Cláudio foi marcado pela instabilidade e por sucessivas campanhas militares para conter as invasões bárbaras e restaurar a ordem interna.

A lenda cristã alega que Cláudio II teria proibido os legionários de se casarem, por considerar que os soldados solteiros eram mais eficientes nas batalhas.

A proibição dos casamentos teria indignado Valentim, que acreditava que os matrimônios eram celebrações sagradas. Ele teria então desafiado a ordem imperial, continuando a celebrar os casamentos em segredo.

Quando o imperador soube que os casamentos continuavam a ser realizados, ordenou a prisão do sacerdote. Na cadeia, Valentim recebia flores e visitas de jovens que o agradeciam por celebrar o amor. Durante a prisão, Valentim também conheceu a filha cega de um carcereiro, por quem se apaixonou.

Segundo a “Lenda Dourada” de Tiago de Voragine, durante seu julgamento, Valentim se recusou a renunciar à fé cristã, motivo pelo qual foi condenado à morte por decapitação. Seu martírio teria ocorrido em 14 de fevereiro de 270.

Antes de sua execução, entretanto, Valentim teria restaurado milagrosamente a visão da filha do carcereiro. Após o martírio, a moça recebeu um bilhete de despedida, onde o sacerdote a “de seu namorado”.

Do ponto de vista histórico, a própria identidade de Valentim representa uma incógnita, uma vez que há ao menos três mártires cristãos associados à data 14 de fevereiro.

É provável que a Igreja Católica, ao canonizar São Valentim, tenha combinado elementos de diferentes mártires para criar uma narrativa unificada. Em função da precariedade de comprovações históricas, a Igreja deixou de celebrar a festa litúrgica de Valentim, embora ele permaneça reconhecido como santo.

As celebrações

Assim como várias outras celebrações paleocristãs, o martírio de São Valentim possui vínculos com as antigas tradições pagãs. A data 14 de fevereiro é a véspera da Lupercália — antiga festa pastoral romana em que se celebrava a fertilidade e a fecundidade feminina.

A festa homenageia Luperco, deus da fertilidade e dos rebanhos, e envolvia o sacrifício de animais para a confecção de tiras de couro, utilizadas em rituais de açoites e de purificação — as chamadas “februa”, de onde deriva a denominação do mês de “fevereiro”.

Alguns estudiosos aventam a hipótese de que São Valentim teria sido criado como uma versão cristianizada de Cupido — o equivalente romano do deus Eros, celebrado como o deus do amor.

No século V, o Papa Gelásio I oficializou a comemoração do Dia de São Valentim em 14 de fevereiro, visando cristianizar a antiga celebração pagã da Lupercália. Combinada com os bacanais, a festa romana também serviu de inspiração ao carnaval.

Ao longo da Idade Média, o dia de São Valentim foi gradualmente assimilado como o dia da celebração do amor. No século 14, o poeta inglês Geoffrey Chaucer, em sua obra “Parlement of Foules”, mencionou 14 de fevereiro como “o dia em que as aves escolhem seus parceiros”.

Já a troca de cartas e poemas românticos data, ao menos, do início do século 15. O mais antigo cartão do dia de São Valentim de que se tem notícia data de 1415. Ele foi endereçado por Carlos I de Valois para sua esposa, enquanto estava preso na Torre de Londres, após ser capturado na Batalha de Azincourt.

A Igreja Católica abandonaria posteriormente a celebração do Dia de São Valentim, mas o costume popular de trocar cartões e presentes no dia 14 de fevereiro não apenas perdurou como foi assimilado por ortodoxos e protestantes.

No século 17, ingleses e ses aram a se referir a data como “Dia dos Namorados” e em meados do século 19 os norte-americanos imbuíram a celebração de forte caráter comercial, introduzindo a confecção industrial de cartões e estimulando o hábito da troca de presentes.

Detalhe dos cupidos no afresco “O Triunfo de Galateia”, de Rafael Sanzio (1511)
Wikimedia Commons

Outros festejos

Mitos e lendas também originaram datas análogas ao Dia dos Namorados em outros países. Na China, o Dia dos Namorados é celebrado no sétimo dia do sétimo mês lunar, em paralelo ao Festival Qixi.

A celebração chinesa é inspirada no conto mitológico do vaqueiro e da tecelã. Zhinu, a tecelã simbolizada pela estrela Vega, amava Niulang, o vaqueiro representado pela estrela Altair. Mas o romance desagradava os deuses. Para separar o casal, a deusa Xi Wangmu criou um enorme rio celestial — a Via Láctea — isolando os amantes nas margens opostas.

Comovidas com o drama do casal, as aves resolveram ajudá-los. Assim, no sétimo dia do sétimo mês lunar, elas formam uma ponte de pegas sobre o rio celestial, permitindo que os amantes se reencontrem.

O Festival Qixi é celebrado há cerca de 2.000 anos, desde a Dinastia Han. Os costumes mudaram muito ao longo dos séculos e as competições e demonstrações públicas de habilidades domésticas foram gradualmente abandonadas.

Hoje, os casais trocam presentes e fazem eios românticos. Em algumas áreas rurais, persistem tradições como as oferendas religiosas e a contemplação do céu, em busca de Vega e Altair.

Na Romênia, o Dia dos Namorados é festejado em 24 de fevereiro. É o chamado de Dia de Dragobete —personagem da mitologia romena. Dragobete era filho de Baba Dochia, um ser associado ao início da primavera. Reconhecido por sua bondade e generosidade, ele foi escolhido pela Virgem Maria para ser o guardião do amor.

O Dia de Dragobete é conhecido como “o dia em que os pássaros ficam noivos”. É nesse período, afinal, que as aves reiniciam a construção dos ninhos, após o longo e rigoroso inverno. Na tradição, os casais costumam sair às ruas para colher as primeiras flores da primavera.

Na Espanha, a comunidade valenciana também tem sua própria data para celebrar o amor. É a “Mocadorà”, festejada em 9 de outubro. Nessa data, os amantes se presenteiam com doces de marzipã.

O Dia dos Namorados no Brasil

Embora a celebração do Dia de São Valentim ocorra em Portugal e outras nações lusófonas, o costume não foi incorporado no Brasil — possivelmente pela concorrência com a celebração do carnaval.

A data nacional do Dia dos Namorados foi uma criação de João Agripino Doria. Descendente de uma aristocrática família de donatários de sesmarias, donos de engenhos e escravos, Agripino era um afluente publicitário e empresário — e pai de João Doria, governador do estado de São Paulo.

Agripino era diretor da Standard Propaganda, uma agência de publicidade que prestava serviços para a loja de departamentos Clipper. Ele foi incumbido de achar uma solução para alavancar as vendas durante o mês de junho. Esse era o período do ano em que as vendas eram pífias e o comércio tinha o desempenho mais fraco.

O publicitário propôs então uma campanha de celebração do Dia dos Namorados, estimulando os casais a trocarem presentes como uma prova de afeto.

A data escolhida foi 12 de junho, véspera do Dia de Santo Antônio, a quem se atribui a fama de casamenteiro e milagres para viabilizar dotes matrimoniais. Ao mesmo tempo em que provia uma justificativa para a celebração, a data também evocava a religiosidade popular.

A campanha teve início em junho de 1949, amparada por slogans como “Não é só com beijos que se prova o amor!” e “Não se esqueçam: amor com amor se paga”. A campanha fez enorme sucesso, movimentou o comércio e ou a ser repetida todos os anos, consolidando o novo festejo no calendário nacional.

Atualmente, o Dia dos Namorados é a terceira data de maior faturamento do comércio brasileiro, movimentando quase três bilhões de reais, montante inferior apenas às vendas de Natal e do Dia das Mães.

Agripino posteriormente faria carreira na política, elegendo-se deputado federal pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Embora conservador, Agripino era nacionalista, defendia a necessidade de modernização do Brasil e apoiou o governo João Goulart. Após o golpe de 1964, o parlamentar teve seu mandato cassado e partiu para o exílio na França, onde ou a se dedicar à exportação de vinho.

O filho seguiu os os do pai, tornando-se igualmente publicitário e político — com algumas diferenças fundamentais. Se o pai era um nacionalista, o filho se notabilizou pela sanha entreguista e pela obsessão com a privatização de serviços públicos.

A verve publicitária, entretanto, manifestou-se em algum nível durante os mandatos de Doria, quando ele ou a se fantasiar de gari, agente de trânsito, pedreiro, cadeirante, tecnocrata eficiente e empreendedor. O marketing pode não ser dos melhores, mas sempre há quem compre.