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Quinta-feira, 12 de junho de 2025
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Há 81 anos, em 10 de junho de 1944, soldados nazistas assassinavam centenas de pessoas no vilarejo de Distomo, na Grécia. O massacre foi uma punição coletiva pelas ações de partisans gregos que lutavam contra a ocupação alemã.

Ao menos 228 pessoas foram assassinadas, incluindo 40 crianças e 20 bebês. O Massacre de Distomo é lembrado como um dos episódios mais cruéis da ocupação nazista na Grécia durante a Segunda Guerra Mundial.

Os responsáveis pelo massacre jamais foram julgados e a Alemanha resiste até hoje a pagar indenizações às vítimas e seus descendentes.

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A invasão da Grécia pelas tropas do Eixo

As ofensivas do Eixo contra a Grécia tiveram início em outubro de 1940, quando as tropas da Itália fascista de Benito Mussolini tentaram capturar o país. Desde os anos 20, a Grécia era apontada como um dos territórios que compunham o “spazio vitale” reivindicado pelo imperialismo italiano.

A Grécia, entretanto, surpreenderia a Itália com sua capacidade de resistência. Ágeis na mobilização de seus efetivos e beneficiados pelo terreno montanhoso e pelas condições climáticas, os gregos não apenas detiveram o avanço italiano como forçaram os invasores ao recuo, expulsando-os para a Albânia — impondo a primeira derrota terrestre significativa para as potências do Eixo.

A derrota de Mussolini forçou Hitler a sair em socorro da Itália. O líder nazista julgava imprescindível garantir o controle dos Balcãs para proteger o flanco sul antes de dar início à invasão da União Soviética. Assim, em abril de 1941, as forças alemãs lançaram uma vigorosa operação para invadir a Grécia, mobilizando mais de 680 mil soldados.

A campanha empregou a estratégia da “blitzkrieg” (“guerra relâmpago”), coordenando simultaneamente o avanço com tanques, bombardeios aéreos intensos e manobras de infantaria. Os alemães abriram uma nova frente de batalha, invadindo a Grécia a partir da Bulgária, superando com facilidade a Linha Metaxas — o sistema de fortificações localizado ao norte da Grécia.

Em seguida, as tropas nazistas avançaram rumo à fronteira com a Albânia, forçando a defesa grega à rendição. Em enorme desvantagem numérica, os reforços britânicos bateram em retirada. Em abril de 1941, os invasores tomaram a capital, Atenas. No mês seguinte, Creta foi tomada na Operação Mercúrio. E no início de junho, todo o território da Grécia continental já estava sob controle do Eixo.

A Grécia sob ocupação alemã

Com a queda da Grécia, o rei Jorge II e o primeiro-ministro Emmanuíl Tsuderós fugiram para o exílio, estabelecendo-se em Londres. O território grego foi dividido em três zonas de ocupação: a alemã, congregando áreas estratégicas como Atenas, Salônica e Creta; a italiana, abrangendo a maior parte do território continental; e a búlgara, com partes da Trácia e da Macedônia Oriental.

Um governo colaboracionista foi estabelecido em Atenas — o chamado “Estado Helênico”, a princípio liderado por Geórgios Tsolákoklu, depois sucedido por Konstantínos Logothetópulos e Ioánnis Rállis. O poder efetivo, entretanto, estava nas mãos do alto comando militar alemão.

A ocupação nazista representaria um dos períodos mais sombrios da história da Grécia, marcado pela repressão brutal da população civil, crise famélica, massacres e inúmeros crimes de guerra. Estima-se que mais de 550 mil gregos foram mortos durante a ocupação.

As políticas nazistas de confisco de alimentos e apropriação dos recursos agrícolas e industriais, combinadas aos bloqueios navais, levaram a uma grave escassez de comida nas áreas urbanas. Estima-se que, somente em Atenas, mais de 300 mil pessoas morreram de fome ou de doenças relacionadas à subnutrição.

A população judaica da Grécia foi quase erradicada. Os nazistas iniciaram a deportação sistemática dos judeus gregos para campos de concentração, sobretudo Auschwitz. Apenas 11 mil dos 75 mil membros da comunidade judaica grega sobreviveram ao Holocausto.

A Resistência Grega

Com o governo grego exilado na Inglaterra e o exército dissolvido, coube à população civil a tarefa de organizar a resistência contra a ocupação nazista. A Grécia serviu de palco a um dos movimentos de resistência mais combativos da Segunda Guerra Mundial, alimentado pela indignação popular diante das atrocidades cometidas pelos invasores.

Revoltas populares contra os alemães eclodiram ainda em 1941, mobilizando milhares de pessoas em cidades de Creta e do norte da Grécia. Os primeiros grupamentos de civis armados ativos na luta contra os nazistas começaram a ser formados nesse mesmo ano. Os partisans gregos eram chamados de “andartes” (“guerrilheiros” na língua grega).

A maior organização da Resistência Grega era a Frente de Libertação Nacional (EAM). Fundada pelo Partido Comunista da Grécia (KKE) e congregando militantes de esquerda e partidários do movimento republicano, a EAM se converteria em um movimento de massas, chegando a contar com quase dois milhões de membros — um quarto da população do país.

Em 1942, a EAM criou o seu braço armado, o Exército de Libertação do Povo Grego (ELAS). Os andartes se engajavam tanto em atividades de guerrilha como emboscadas e ações de enfrentamento aberto. Conduziam operações de sabotagem contra linhas férreas, pontes e depósitos de suprimento nazistas e fomentavam a resistência urbana através de greves e protestos nas grandes cidades.

Entre 1943 e 1944, o ELAS conseguiu libertar diversas localidades do território grego, estabelecendo zonas livres que abrigavam bases para operações militares e que revigoravam a resistência popular.

O grupo também foi responsável pela destruição da ponte sobre o Rio Gorgopotamos, — um dos atos de sabotagem mais espetaculares da Segunda Guerra, que interrompeu a ligação ferroviária entre Atenas e Tessalônica, causando sérios problemas logísticos para os alemães.

Monumento às vítimas do Massacre de Distomo
AlMare/Wikicommons

Preocupado com os danos causados pelas operações da resistência, Alexander Löhr, o comandante do Grupo de Exércitos E (as unidades do exército alemão ativas no Mediterrâneo Oriental) ordenou o início de uma série de varreduras visando localizar e exterminar os partisans.

Em paralelo, Löhr intensificou o emprego de ataques sistemáticos aos civis. Os nazistas acreditavam que o terror das punições coletivas desencorajaria o apoio popular à resistência. Assim, uma série de massacres foram cometidos como represália às ações do andartes, resultando no extermínio de vilas inteiras e na matança indiscriminada de mulheres, crianças e idosos.

O Massacre de Distomo

Distomo, uma pequena vila situada na região da Beócia, a cerca de 100 km de Atenas, era um povoado pacífico, com cerca de 1.800 habitantes. A vila não abrigava alvos militares nem grupamentos de partisans, mas sua mera localização serviria de pretexto para que fosse atacada pelos nazistas.

Nos arredores de Distomo, ficava a vila de Livadia, onde um comboio nazista sofrera a emboscada de um grupo de partisans, resultando na morte de três soldados alemães. A região também abrigava a aldeia de Steiri, onde os guerrilheiros mataram sete militares alemães.

Não havia quaisquer evidências de que os habitantes de Distomo estivessem envolvidos nesse ataque, mas o vilarejo se tornaria alvo de uma punição coletiva ordenada pelo capitão Fritz Lautenbach.

No dia 10 de junho de 1944, as tropas da 4ª Divisão SS Polizei cercaram Distomo e deram início a um banho de sangue. Os alemães percorreram o vilarejo casa por casa, assassinando os moradores indistintamente.

Os testemunhos de sobreviventes descreviam atos de extrema crueldade. Os bebês foram tresados a golpes de baioneta enquanto dormiam em seus berços. Mulheres grávidas tiveram suas barrigas perfuradas. O padre da vila foi decapitado.

Mulheres e crianças foram torturadas, mutiladas e estupradas pelos soldados alemães antes de serem mortas. As casas foram saqueadas e incendiadas, deixando a vila em ruínas.

Representantes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha que visitaram o local após o massacre afirmaram ter visto inúmeros corpos mutilados pendurados nas árvores ao longo da estrada para Distomo.

De acordo com registros oficiais, ao menos 228 civis foram assassinados durante o massacre, incluindo 40 crianças e 20 bebês. Outras estimativas, no entanto, apontam que mais de mil pessoas podem ter sido mortas pelas tropas nazistas na região.

Reações e tentativas de responsabilização

As informações sobre o massacre começaram a circular rapidamente, causando consternação e revolta. Uma reportagem publicada pela revista Life em novembro de 1944, intitulada “O que os alemães fizeram à Grécia”, ajudou a difundir internacionalmente o conhecimento sobre o massacre.

A brutalidade do ataque foi tamanha que até mesmo alguns oficiais alemães questionaram o relato de Lautenbach, que afirmava que as tropas haviam sido atacadas diretamente a partir de Distomo. Uma investigação interna chegou a ser iniciada, mas Lautenbach foi absolvido, sob a justificativa de que suas ações foram “motivadas por um senso de responsabilidade para com seus homens”.

Apesar da gravidade do crime, nenhum dos militares diretamente envolvidos no massacre foi levado à justiça. Fritz Lautenbach, o comandante da operação, nunca foi preso. Hans Zampel, outro oficial que participou diretamente da matança, foi extraditado pela Grécia em 1953, mas acabou sendo absolvido na Alemanha.

O comandante da divisão, Fritz Schmedes, e o comandante regimental, Karl Schümers, também escaparam de punição. Schümers foi morto por uma mina em agosto de 1944, enquanto Schmedes sobreviveu à guerra sem enfrentar consequências.

A luta por reparações começou décadas depois. Em 1997, o Tribunal de Livadia, na Grécia, condenou a Alemanha a pagar 28 milhões de euros em compensação às vítimas e seus descendentes.

A sentença foi referendada pelo Supremo Tribunal da Grécia, mas sua execução dependeria do aval do governo grego. Sob pressão política da Alemanha, a Grécia se recusou a executar a decisão.

Em um esforço para contornar a resistência grega e alemã, os sobreviventes levaram o caso aos tribunais italianos, que têm reconhecido o direito das vítimas de crimes de guerra a buscar reparação.

Em 2014, a Corte Constitucional Italiana decidiu que a imunidade estatal não se aplicava a crimes de guerra como o de Distomo, permitindo novas ações legais. A Alemanha, entretanto, recorreu ao Tribunal Internacional de Justiça em Haia, que decidiu que a execução de reparações na Itália violava a soberania alemã.

Desde 2005, a cidade de Distomo sedia o Museu das Vítimas do Nazismo, abrigando fotografias das vítimas, documentos históricos e itens relacionados ao massacre. Em 2006, foi lançado o documentário A Song for Argyris, que narra a vida de Argyris Sfountouris, um sobrevivente da chacina.