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Segunda-feira, 9 de junho de 2025
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Estruturar um outro modelo econômico centrado nas pessoas e não no lucro, na preservação do planeta e não em sua devastação, nas ações colaborativas e comunitárias e não no individualismo predatório foi o que mais de 400 lideranças, de 30 países, defenderam durante o 1º. Fórum de Economia Social da rizmendiarrieta Social Economy Think Thank (Asett).

O Fórum foi o primeiro ato de um movimento global e permanente de transformação social, capitaneado pela Asett, que é um centro de conhecimento e desenvolvimento sustentável, fundado em julho de 2023, com o objetivo de impulsionar centenas de milhares de práticas de inovação e cooperação pelo mundo afora.

Apenas na Europa, o setor de economia social, conhecido pelos brasileiros como economia solidária, representa 10% do Produto Interno Bruto (PIB) espanhol e 8% da União Europeia. O esforço da Asett por sua internacionalização é, justamente, o de ampliar essa participação dentro e fora do Velho Continente.

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A ideia é fortalecer experiências de economia solidaria e preparar entidades, empresas e organizações do setor para os desafios – e as oportunidades – abertos pelas transformações digitais, com sua imensa possibilidade de articulação em rede, pela transição ecológica e pelas diversas lutas de movimentos e governos contra as desigualdades econômicas e sociais.

Opera Mundi acompanhou o encontro que aconteceu em San Sebastián (Donostia), no País Basco, coração do cooperativismo global, no norte da Espanha.

Cooperativas combatem a desigualdade

No impulsionamento da economia social, a Asett conta com diversos apoios, incluindo o governo da Espanha e a Confederação Empresarial Espanhola da Economia Social (CEPES). Outro apoiador é a Corporação Mondragon, a mais importante cooperativa do País Basco, que reúne 74 mil trabalhadores, 92 coparticipantes, com presença internacional em 150 países.

À frente da direção da Asett, Iñigo Albizuri explica que o think tank tem como principal objetivo consolidar “um outro caminho econômico, não apenas focado em benefícios individuais, mas sim nos benefícios sociais. A economia solidária, o cooperativismo, a união do trabalho das cooperativas e das universidades criam um sistema melhor e mais sólido, porque as pessoas são donas dos seus negócios e cuidam deles pensando em suas comunidades”.

A economia solidária inverte, assim, a lógica do lucro individual e do crescimento sem propósito social do capitalismo empresarial, com resultados concretos para governos e comunidades locais. “Nos lugares onde existem mais cooperativas, você tem um melhor índice GINI (medidor das desigualdades). Nós não precisamos de pessoas ricas, mas sim de comunidades ricas”, disse.

O Fórum

Ao longo do evento, painéis e mesas de debates trouxeram temas como cooperativismo, inclusão social, tecnologia, sustentabilidade, comunicação, energia e água, gênero, juventude, cultura, financiamento, saúde e transformação social.

Além de personalidades, o encontro contou com a participação de organizações internacionais que apoiam a iniciativa, como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Oxfam e uma rede de cooperativas, das mais diferentes áreas, que integram os esforços da Asett.

A Economia Solidária é uma economia de vanguarda que vem integrando a prática de inúmeros governos do Norte e Sul Global. Ministros e secretários de Estado ressaltaram a importância do setor no combate ao desemprego, às desigualdades sociais e para a promoção do desenvolvimento econômico, através de um outro modelo empresarial capaz de priorizar os reais interesses das populações.

Fórum da Asett reuniu mais de 400 lideranças de 30 países para debater economia social
Tatiana Carlotti

Vanguarda no Norte Global

“É a primeira vez que temos um Ministério de economia social”, comemorou a vice-presidente da Espanha e ministra do Trabalho e da Democracia Social, Yolanda Diáz. Sua fala foi uma forte defesa da economia social e da urgência de seu fortalecimento no enfrentamento da conjuntura de incertezas que chacoalham não só a Europa, mas todas as nações do planeta.

“Vivemos em tempos de incerteza, com crises alimentares e guerras, inclusive a crise promovida pela guerra tributária de [Donald] Trump”, destacou, ao mencionar os ataques à democracia e ao bem-estar das famílias propalado pelo avanço da extrema direita, que visa fragilizar os sindicatos e a economia social.

Diáz também trouxe o impacto da economia solidária para a igualdade entre os gêneros, um fator salientado por outros gestores públicos ao longo do evento. “A economia social é uma economia feminista”, destacou ao mencionar que as suas práticas e valores recolocam as pessoas no centro do sistema, tornando-se uma “fortaleza” para a atuação do poder público.

Segundo ela, o governo espanhol vem atuando para oferecer à população “um sistema ético de finanças na economia social, com programas de crédito destinado às mulheres, em geral, destituídas de participação nos processos de financeirização e de concentração de renda”.

A economia social não a vanguarda apenas nos governos europeus. Ela é uma oportunidade vislumbrada por diversos governos do Sul Global, com destaque para o Brasil. Com mais de 28 mil iniciativas, o país marcou presença no evento com a participação de Gilberto Carvalho, secretário Nacional de Economia Solidária do governo Lula.

Ele trouxe um panorama do setor e os avanços em curso, ao lado de autoridades do Senegal e do México, entre outras, que relataram suas experiências locais.

No coração do cooperativismo

A economia social tem forte tradição nos diferentes governos autônomos da Espanha. O País Basco é uma dessas regiões e, a partir da experiência exitosa da Mondragon, é o coração do cooperativismo global.

Em debate com representantes da Murcia, Galícia, Navarra e Catalunha, a vice-ministra do Trabalho e Segurança Social do governo basco, Eleny Pérez, destacou sobre o Fórum da Asett: “o que fazemos aqui é subversivo”.

“Todos pensam que estamos apenas discutindo, mas, na realidade, estamos demonstrando que colaboramos uns com os outros e temos interesses comuns. O que nos move é a necessidade de construir uma sociedade muito mais justa e inclusiva”, afirmou.

Ao mencionar que o País Basco tem “uma importante forma de economia social” ancorada em uma “intensa colaboração entre as unidades políticas do país, por suas diferentes instituições”, ela salientou a forte colaboração público-privada.

“A economia social está em todos os setores. Todas as famílias da economia solidária têm suas oficinas articuladas. Nosso objetivo é levá-las a acordos que realmente impactem o setor, permitindo que as políticas públicas sejam capazes de cobrir as necessidades em distintos lugares da economia social. Vivemos em um mundo em que precisamos cada vez mais colaborar e nos entender. Se isso não acontecer, destacou, é a barbárie. É condenar uma importante classe a ficar para trás”, pontuou.

Na França

A França, outro país com forte tradição cooperativa, também esteve presente no evento. Maximw Baduel, ministro da Economia Social e Solidária sa, destacou o papel político da economia solidária, salientando sua promoção “da coesão social, da solidariedade e de atividades econômicas que geram emprego”.

Ele também apontou os valores da “igualdade, da justiça e da cooperação” e a grande inovação social trazida pelo setor, que é hoje um apoio fundamental aos governos, por garantir “cidadania econômica através da execução de políticas públicas compartilhadas com a sociedade”. Em sua avaliação, é fundamental dar força e visibilidade às ações das cooperativas e das empresas familiares, para que elas possam “desenvolver o seu poder de agir”.

Neste sentido, ele abordou a necessidade de financiamento e de regulamentação no quadro do poder legislativo, de regras e políticas de planejamentos, dentro e fora da Europa, para criar as condições que permitam a instituição desse ecossistema, bem como a reformulação de políticas públicas que garantam às associações a capacidade de defenderem seus interesses coletivos de forma democrática.

Baduel citou ainda a criação de um fundo nacional para o desenvolvimento das inovações sociais para a área. Ele também lembrou que apesar da forte tradição de cooperativas e da capacidade de engajamento dos seus atores, o setor enfrenta o desafio de viabilizar a importância de suas práticas, além de que “precisa mostrar a sua força”.