Em 2010, soldados da ONU levaram epidemia de cólera ao Haiti, e 10 mil pessoas morreram
Em entrevista a Opera Mundi, Ricardo Seitenfus afirmou que ONU errou ao não reagir imediatamente no controle da epidemia; números não oficiais indicam que cerca de 50 mil pessoas morreram
Uma epidemia de cólera no Haiti, em 2010, deixou oficialmente 10 mil pessoas mortas e contaminou mais de 700 mil. O surto colérico foi causado por uma disseminação do vibrião no rio Artibonite após a chegada de uma tropa de soldados das Nações Unidas ao país.
A contaminação aconteceu quando os soldados da Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (Minustah), que vinham de um acampamento em Annapurna, no Nepal, para o Haiti, realizavam uma limpeza em alguns equipamentos e também em fossas sépticas. No entanto, um vazamento nas latrinas do acampamento da tropa disseminou o vibrião nas águas haitianas.
Em entrevista a Opera Mundi, Ricardo Seitenfus, ex-representante especial do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Haiti, afirmou que a ação dos soldados da tropa mostra uma “relação de causa e efeito”, entre a lavagem das fossas, o vazamento das latrinas e contaminação no Haiti.
Ricardo Seitenfus afirma que ação preventiva da ONU evitaria número de vítimas fatais
Porém, Seitenfus afirma que no início do surto ainda não havia conhecimento de qual era o tipo de vírus e a origem da doença. O diplomata aponta que, desde o começo o então presidente haitiano René Préval afirmava que se tratava de uma doença importada e não do próprio Haiti.
Um exame feito a pedido da embaixada da França no Haiti confirmou que a cepa (grupo ou linhagem do agente infeccioso) do vibrião colérico que está no Haiti era a mesma do Nepal.
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Seitenfus disse que a ONU se silenciou em relação à epidemia e declarou, seis anos após o episódio, ter responsabilidade sobre a chegada da cólera no Haiti.
“Essa é uma história muito triste e que ninguém conta, ou poucos contam. É uma história que mancha a reputação das Nações Unidas, que mancha as operações de paz”, disse.
“Seria uma questão de honra às Nações Unidas em reconhecer que trouxe, sem querer, por negligência ou por despreparo, [a cólera] ao Haiti”, disse Seitenfus, afirmando que ainda há cólera no país.
O ex-representante afirma que se a ONU tivesse assumido a responsabilidade, muitas vidas poderiam ter sido salvas. As medidas preventivas das Nações Unidas deveriam ter sido de emissão de comunicados aos moradores e controle no manejo das águas que estavam contaminadas.
Assista à entrevista com Ricardo Seitenfus:
