Por todo o Líbano, Israel bombardeia instituição de caridade ligada ao Hezbollah
Ataque ocorreu enquanto, em Gaza, equipes tentavam resgatar soterrados pelo brutal bombardeio que deixou 87 mortos ou desaparecidos
Os militares israelenses realizaram domingo à noite (20/10) uma onda de ataques aéreos a agências da Al-Qard al-Hasan, instituição financeira e de caridade vinculada ao Hezbollah que é um elemento chave da rede de serviços sociais que o grupo mantém no país.
Com 30 agências espalhadas por todo o Líbano, a Al-Qard al-Hasan é hoje a maior fornecedora de microcrédito e serviços financeiros a civis em muitas áreas do país, onde setor bancário tradicional está em ruinas.
Profundamente enraizada nas comunidades muçulmanas xiitas, a instituição tem muitas de suas filiais nos andares térreos de edifícios residenciais, metade delas em áreas densamente povoadas do centro e Beirute e seus subúrbios. Ainda não há informações de mortos e feridos.
Minar a confiança
Embora o montante de recursos mantidos nessas agências não constituam parte significativa dos ativos do Hezbollah, autoridades israelenses disseram que o objetivo dos ataques era dificultar a capacidade do Hezbollah se reconstruir e se rearmar. Entretanto, Israel itiu que os ataques também visavam minar a confiança entre o Hezbollah e os cidadãos muçulmanos xiitas do Líbano.
Segundo eles, esse sistema bancário alternativo, “ vem sendo usado para financiar as atividades terroristas do Hezbollah”. Foi o que afirmou o porta-voz militar israelense, contra-almirante Daniel Hagari na ordem de evacuação veiculada instantes antes dos ataques.
No domingo a noite (20/10), Israel emitiu alertas de evacuação para mais de duas dúzias de objetivos em Beirute, em Dahiya, cidade próxima, densamente povoada, e no leste e no sul do país. Instantes depois, centenas de moradores abandonaram suas casas em Beirute e multidões em pânico lotaram as ruas, provocando grandes congestionamentos.
Segundo correspondentes de guerra, logo após a ordem de evacuação, várias explosões foram ouvidas e um grande incêndio podia ser visto nos subúrbios ao sul de Beirute. Ainda não há informações sobre vítimas.
Em 2007, a Al-Qard al-Hasan, já então a maior organização de microcrédito do país, foi colocada sob sanções dos EUA, acusada de funcionar como o braço financeiro do Hezbollah, “movimentando ilicitamente fundos por meio de contas fantasmas e facilitadores”.
Recrudescimento em vez de trégua
No sábado (19/10), Israel bombardeou um reduto do Hezbollah perto de Beirute, um dia depois de um drone do grupo xiita atingir um edifício próximo à residência do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Os ataques às agências de Al-Qard al-Hasan no domingo ocorreram enquanto equipes de resgate em Belt Lahia, no norte de Gaza, buscavam soterrados pelo brutal bombardeio israelense de sábado a noite (19/10) , que deixou ao menos 87 pessoas mortas ou desaparecidas e 40 feridos, em sua maioria mulheres e crianças.

Bombardeios de Israel no Líbano incluíram áreas densamente povoadas
O evidente recrudescimento dos ataques israelenses em Gaza e no Líbano após a morte na quinta-feira (18/10) do principal líder do Hamas, Yahya Sniwad, frustrou as expectativas gerais de que o desaparecimento dessa liderança pudesse contribuir para um cessar fogo. Um ataque ao Irã nos próximos dias está no horizonte.
Nos combates no norte de Gaza, um coronel israelense foi morto e outro oficial ficou ferido e uma bomba explodiu embaixo de um tanque.
Antes dos ataques da noite de domingo no Líbano, segundo o gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, este conversou por telefone com Donald Trump, ex-presidente dos EUA e candidato ao cargo nas eleições de 5 de novembro. Segundo Trump, Netanyahu pediu sua opinião sobre o que fazer com o Irã, ao que Trump respondeu: “Faça o que tiver que fazer”.
Segundo o gabinete de Netanyahu, na conversa ele também reiterou que leva em conta as considerações do governo dos EUA, mas que, no final, “toma suas decisões com base em seus interesses nacionais”, numa referência velada aos apelos por um cessar fogo feitos nas ultimas semanas pelo presidente norte-americano Joe Biden,
Plano de ataque ao Irã vazou
Os EUA estão investigando o vazamento de dois documentos altamente confidenciais de seus serviços de inteligência que detalhavam os preparativos de Israel para atacar o Líbano. Os documentos, cuja autenticidade já foi confirmada pelo New York Times, começaram a circular na semana ada em mensagens do aplicativo Telegram.
Aparentemente preparados pela Agência Nacional de Inteligência Geoespacial dos EUA, os documentos analisam os planos da Força Aérea e da Marinha israelense a partir de imagens de satélite de 15 e 16 de outubro.
O primeiro documento, intitulado “Israel: Força aérea continua preparações para ataque ao Irã e conduz um segundo exercício de emprego de grande força” descreve, entre outras coisas, o manuseio de mísseis balísticos. O segundo leva o nome de Israel: “Forças de Defesa continuam preparações de munições essenciais e atividade secreta de drones, quase certamente para um ataque ao Irã”.
Em entrevista coletiva, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse na semana ada que tinha uma boa ideia de quando e como Israel atacaria o Irã.
Segue assédio à ONU
O enviado de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Oriente Médio condenou os ataques contínuos contra civis após o brutal bombardeio de Belt Lahiya, no sábado (19/10).
No dia seguinte, domingo (20/10), uma retroescavadeira do exército israelense demoliu uma torre de observação e uma cerca perimetral de uma posição da ONU em Marwahin, no sul do Líbano. Israel continua solicitando que as forças de paz da ONU se retirem da região e estas continuam dizendo que não sairão e que seguirão cumprindo sua missão.
Hezbollah ataca Israel
Cerca de 160 foguetes ou drones foram disparados pelo Hezbollah contra Israel do sul do Líbano, nesse domingo (20/10), em duas ondas de ataques. Israel não reportou vítimas, mas informou que suas equipes de emergência trabalhavam para apagar “inúmeros incêndios”.
O Hezbolla lança ondas de foguetes contra Israel desde que o país invadiu o sul do Líbano. Mas garantiu que acataria o cessar-fogo proposto pelo governo libanês há poucos dias desde que Israel pare de bombardear Gaza.
