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Quinta-feira, 12 de junho de 2025
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“Eu esperava fortemente por esse cenário, mas realmente esperava por um milagre: de alguma forma, o navio romperia o bloqueio e chegaria a Gaza”. Esse é o relato de Madleen Kulab, pescadora de 30 anos que inspirou o nome do navio que tentou levar ajuda humanitária ao enclave palestino, mas acabou sendo interceptado pelas forças de Israel.

Em entrevista à emissora catari Al Jazeera, enquanto acompanhava a jornada da embarcação com uma mistura de esperança e ansiedade, a palestina disse que se entusiasmou com os reportes enviados pelo barco que levava o seu nome, e que permaneceu em contato próximo com os organizadores da Coalizão da Flotilha da Liberdade (FFC, na sigla em inglês) até o último domingo (08/06).

Mas seu otimismo deu lugar à tristeza após a captura da embarcação. “Fiquei profundamente desanimada”, disse Kulab, sobre a a notícia de que as forças israelenses interceptaram o navio em águas internacionais e detido as 12 pessoas a bordo, incluindo a ativista climática sueca Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila.

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Na noite anterior à interceptação do navio, a pescadora conversou com Rima Hassan, deputada sa do Parlamento Europeu que estava a bordo.

Hassan, de origem palestina, disse a Kulab por videochamada que seu maior sonho era visitar Gaza. “E, no entanto, esse sonho simples [de visitar Gaza] foi tornado impossível por Israel”.

Para a pescadora, a interceptação agravou o peso do isolamento de viver sob o bombardeio de Israel. “Vivemos em um lugar completamente isolado do mundo. [Desde 2010] todas as tentativas anteriores das flotilhas de romper o bloqueio foram recebidas com intervenção militar”, disse Kulab, referindo-se a como missões anteriores foram bloqueadas ou atacadas por forças israelenses.

Desde que sua última guerra em Gaza começou em 7 de outubro de 2023, Israel matou pelo menos 54.880 palestinos e feriu 126.227, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza. E, desde 2007, os palestinos em Gaza vivem sob um bloqueio aéreo, terrestre e marítimo imposto por Israel. “A história deste navio reflete a minha e a história de todas as pessoas cansadas e esgotadas em Gaza”, disse ela.

Para Kulab, a repercussão na mídia internacional da missão da Flotilha e a interceptação do navio refletem o sofrimento mais amplo dos palestinos em Gaza, que ela diz parecer interminável. “Somos apenas uma onda da mídia: ela surge abruptamente, depois desaparece com a mesma rapidez, e somos deixados para enfrentar nossa dor em silêncio”.

Madleen Kulab inspirou nome do navio da Flotilha da Liberdade
Madleen Kulab inspirou nome do navio da Flotilha da Liberdade
Instagram / @madleenkulab

Repercussão

Com a detenção dos tripulantes do Madleen, Kulab disse que só espera pela segurança deles e seu eventual retorno para casa. Thunberg foi deportada de Israel na terça-feira (10/06). “A nobre mensagem deles foi transmitida: a mensagem da humanidade chegou ao mundo”, disse ela.

A população de Gaza está enfrentando fome e, depois que Israel suspendeu parcialmente seu rigoroso cerco em maio, centros de ajuda humanitária se tornaram alvos de assassinatos, com soldados israelenses e agentes de segurança dos Estados Unidos atacando multidões de palestinos que tentavam ter o a alimentos.

Dia após dia, a vida se torna mais inável, disse a primeira pescadora de Gaza. “Estou me afogando em sofrimento em meio à guerra e à fome, assim como a minha família e todos por aqui”, lamentou Kulab.

Quem é Madleen Kulab

Madleen Kulab é a única pescadora em Gaza, além de ser a única nadadora de resgate certificada. Ela pesca com o pai desde os seis anos de idade e, aos 12, já saía sozinha.

“Fiquei profundamente comovida. Senti uma enorme sensação de responsabilidade e um pouco de orgulho”, contou a Al Jazeera quando um amigo ativista irlandês lhe disse que o navio que tentaria quebrar o bloqueio em Gaza receberia seu nome.

Quando a guerra de Israel em Gaza começou, sua família ficou devastada e, depois, desolada quando as forças israelenses mataram o pai de Madleen em um ataque aéreo perto de sua casa em novembro de 2023.

Ao lado do marido, Khader Bakr, de 32 anos e também pescador, eles fugiram com três filhos para Khan Younis, Madleen grávida de quase nove meses. Depois, seguiram para Rafah, para Deir el-Balah e finalmente para Nuseirat.

Agora, sua família está de volta ao que restou de sua casa na Cidade de Gaza, um espaço gravemente danificado para onde regressaram quando o exército israelense permitiu que os deslocados retornassem ao norte em janeiro.

Atualmente, Madleen e Khader não podem mais pescar, porque Israel destruiu seus barcos e um depósito inteiro de equipamentos de pesca durante a guerra.