Thiago Ávila chega ao Brasil e pede que governo Lula rompa com Israel
Ativista estava sob custódia desde segunda-feira após integrar embarcação humanitária que tentou chegar a Gaza
O ativista brasileiro Thiago Ávila chegou na manhã desta sexta-feira (13/06) no Brasil após ar quase uma semana detido em Israel. Ele era um dos 12 tripulantes da embarcação humanitária Madleen, que tinha como destino Gaza e fazia parte da Coalizão Flotilha da Liberdade.
Ávila aterrizou no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, por volta das 6h. O voo saiu de Tel Aviv na tarde de quinta-feira (12/06) e fez uma conexão em Madri, na Espanha. Assim que chegou, o ativista foi recebido por apoiadores e militantes pró-Palestina. Ele estava com a roupa que recebeu na prisão de Givon e disse que não estava com vergonha da vestimenta, pelo contrário, era “uma honra, um processo de emancipação”.
O brasileiro estava sob custódia israelense desde a madrugada de segunda-feira (09/06), quando o barco em que estava foi interceptado pela Marinha israelense em águas internacionais no mar Mediterrâneo. Na tarde de quarta-feira (11/06), Thiago havia sido transferido para uma cela solitária na prisão israelense.
Ele pediu que o governo Lula rompa relações com o Estado sionista governado por Benjamin Netanyahu. Ávila defendeu que não romper com “essa ideologia odiosa” está sendo “conivente”. “Está perdendo uma grande chance. Porque líderes históricos, em momento de crise como este, se engrandecem quando têm coragem”, afirmou.
‘Bem-vindo a Israel’
“Depois que eu fiz todas as tarefas que estavam comigo [dentro do Madleen], eu era a pessoa que ficava naquela quina onde eles [militares israelenses] chegariam primeiro. E a única coisa, depois que a gente já não tinha mais telefone, já não tinha mais nada, a única coisa que eu pegava no meu bolso era essa gira lembrando da Tereza [sua filha]. E isso ajuda a gente a ficar calmo. A gente não tem que ter medo deles. Tudo que eles têm são as bombas, é o ódio e a violência”.
Ele contou que, quando foi detido, usava um colar da Palestina e que os militares afirmavam que a “Palestina não existe” e repetiam “bem-vindo a Israel”. “Quando eles me levaram para a solitária, o primeiro grupo de soldados mais violentos me jogou na parede e falou: ‘bem-vindo a Israel, Thiago’. E eles emitiam isso nos momentos de violência também”, disse.
O ativista afirmou que não aceitou nenhum documento do governo israelense e que está banido de entrar no país por 100 anos. Porém, segundo ele, não há “intenção nenhuma de ir a Israel”. “Tenho intenção de ir a uma Palestina livre, espero ir muito antes disso”, afirmou.

“Se a história da luta anticolonial está correta, todos os povos têm o destino de ser vivos, o povo palestino será vivo muito antes disso. Se vocês [palestinos] me convidarem, eu vou muito antes de 100 anos”.
Regime autoritário
Ávila denunciou o “regime autoritário” de Israel, que mantém milhares de palestinos, incluindo crianças, presos sem qualquer tipo de acusação formal ou de julgamento.
“O que é que o mundo vai fazer pra derrotar esse regime? Então, eu sou mais um aliado. […] A história são palestinos e palestinas. Se você quiser dizer de heróis, sinceramente, a gente não precisa, a gente precisa de solidariedade, coragem e humanidade. Têm heróis desse tipo hoje, que são palestinos e palestinas, que estão sobrevivendo há um ano e nove meses com maiores horrores”, disse.
Ainda segundo ele, a embarcação humanitária interceptada não foi bombardeada pois estava a bordo a eurodeputada franco-palestina Rima Hassan, que também foi colocada em uma cela solitária após escrever “Palestina Livre” na parede. Ávila disse que todo o suprimento e ajuda que estavam no Madleen foram sequestrados por Israel.
